terça-feira, 26 de maio de 2009

Eu Rio

Pelas margens do Rio Tãmega, corre descalça com um narciso na mão. Veste uma saia azul e uma blusa branca abotoada de forma a esconder o seu pescoço fino, elegante, que em tempos a fez acreditar ser prenúnicio de uma vida equilibrada nas pontas dos pés. Fica invadida pelo soluço silencioso das pedras molhadas espalhadas pelo rio, constatando que foi apenas ilusão mas que é por dentro da fantasia que o homem está mais feliz. "Sorri ainda que impregnado de vestes, o homem que faz de Pai Natal!"

No seu percurso, fita o lixo que se instalou nas margens e procura as mulheres que outrora lavavam roupas com sabão rosa até roxear as mãos que de tão gélidas , ferviam de empenho e dedicação. Mas já não as encontra...

Aquele doce rio vazio transporta calmaria e resolução. Não foi no rio que ela aprendeu a rimar, mas lá tentou remar para sobreviver às correntes que entristeciam a sua poesia. No ritual da condensação de emoções, obrigou-se a escrever para substituir o machado pesado que usava para derrubar árvores gigantescas, pouco verdes, que nem para bode "respiratório" serviam para justificar a falta de fôlego.Na escrita entendeu, que a sua paixão pela maximização decorou as paredes da sua casa, com um papel pouco florido e meio esbatido, paredes auto-criadas e exageradas de melancolias e temores.

Leva consigo, o cheiro do mato, desmancha a sua procura no ar, define bem o que não viu, acha que o falar não torna rica a palavra suficiente, pois falar não basta, sendo assim escreve mais do que suporta, sente no papel as suas pulsações, tudo isto para não deixar cair o narciso no chão. Fica angustiada a olhar para um rio que conspira contra as suas próprias correntes, correntes que o ferem e pisam, que deixam os peixes cheios de sede e que afogam os seus próprios sonhos numa fragilidade insensata.

E no fim, ela acaba por mergulhar!

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