quinta-feira, 7 de maio de 2009

Sol vs Sombra

Caminho num solo de improvisos constantes, a meditar a sós, na vida e em Deus, molhando os lábios nas fontes de água que avisto, enquanto me arrasto em direcção à voz do rouxinol.
Sento-me numa pedra falsa que abana, não tão grande como a famosa pedra da bolideira, mas suficientemente trémula para me fazer sentir insegura. Abro uma romã ao meio, com um pequeno canivete, recordação do meu avô, e entrego-me aos prazeres da degustação de um fruto que emana de um sabor confuso, breve e passageiro. Delicio-me a olhar o céu e sinto o abandono de mim como ser carnal,como recipiente de seduções que sempre me escravizaram.
Sinto-me rainha do lugar luminoso onde nasce o sol e em simultâneo guardiã do lugar tenebroso que expele sombras. Que violentas e antagónicas conotações de mim própria!
Levanto-me da pedra inconsistente, exercito repetidas vezes os joelhos, que o tempo por desgaste transformou em rótulas vibráteis de platina, não minhas.
Regresso ao pátio e num surto de afecto deixo-me cair desmaiada sobre o milho espalhado no chão. Foi negligente a minha relação com o dia. Procurei fissuras para ver pequenos sinais de luz e não me permiti ao arrepio causado pelo som da espuma do mar a desfazer-se.
Passo da queda sobre o milho para o meu quarto e antes de adormecer, amorroto esta folha.

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