domingo, 5 de abril de 2009

Aos pedaços


Partiste-te em pedaços... ó jarrão enfurecido pela estrutura da mesa, não te suportaste, teimaste em te quebrar!


Colando peças de si mesmo, vai agora devagar ganhando formas. Debruça-se sobre si e reproduz na integra as suas impressões digitais... vai fazer-se de novo. Solene aos gritos se desfez, imperial aos gritos se refaz!
Deita fora amarguras que imprimiu num papel que não sendo só o seu, tanto tempo acomodou. Nos seus olhos verdes hoje brilha a esperança que o (re)seduz. Transfigura paisagens, guarda pecados, incompara momentos, reestabelece caminhos e numa garra extasiada, olha em frente!

É na luta entre o já corrido e o horizonte, que boiam desejos de chegar onde Camões chegou e onde barcos conseguiram atracar. Um porto imaginado em momentos de avanço. Esperam-se palmas em silêncio para se espantarem as noites frias.
Ó jarrão!!! Desististe das vozes que adormecidas só ressonam, dos gestos que paralisados só fazem sombra, dos olhares que cegos só tropeçam e dos abraços que de tanta leveza já voaram. Pressinto que preparas um mergulho perfeito, para sorver do mar o sal que tempera a vida e depois a tomares nos braços sem receios, sem sustos, sem medos.

Estou certa, jarrão?

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