quarta-feira, 15 de abril de 2009

Melancia - Cultura das curcubitáceas

Na aurora da minha poesia ouço cantigas simples que falam de flores, lições de vida e de amores.
Vou convidar-me a uma viagem, ao tempo em que eu queria ser como a Magali. De apetite voraz, fazia questão de ingerir cada palavra escutada, cada movimento que alguem exibia, para mais tarde reproduzir e ver o que com isso poderia fazer de mim. Qualquer estímulo, qualquer sinal que passeava lá fora, eu engolia, muitas vezes a seco, muitas vezes a quente, mas pouco disso me modificou, tal como a Magali, permanecia elegante.
Quantas melancias inteiras eu devorei, com sede, com garra, com fome! Eu queria aumentar o meu volume existencial.
Deparei-me então com uma notícia que me arrancou da mesa onde há anos esperava alimento, descobri que a Magali era canhota, então, renovei os meus propósitos e pensei: “ Eu também quero canhotar”!
Mudei a posição do papel, tentei arranjar o jeito ideal de segurar a caneta com a outra mão e comecei a dar mais uso ao que até então menos tinha desenvolvido... A partir daí, criei os meus riscos, tracei as minhas linhas e pontuei as minhas frases, ao meu estilo, fiz as letras bailarem acabando por assinar sempre o meu nome em baixo.
Entendi que não me chega apenas ver alguem a cultivar um campo, tenho de ser eu a lavrar, semear. Só eu posso marcar o compasso das danças que alinho nos regos do meu terreno.
Parei e deixei de fugir como foge um boi picado por uma mosca venenosa, sacudi-me e resolvi-me, abandonei a minha máscara de dependente, de faminta e de medrosa! Olhei-me nesse momento ao espelho e vi a passagem, abandonei a touca mal posta que trazia e passei a ser eu com os meus caracois, livremente despenteados e sem nada para os esconder. Ha quem diga que desde então tornei-me muito cabeluda mas eu já não interiorizo tudo o que ouço, agora sou desprovida de opiniões faceis, menos presa talvez.
Não vou andar mais rasa que a lama à espera de sinais para me erguer, ficarei nas ermidas no alto das rochas a combater os Mouros, porque sei que só assim apreciarei o canto das aves nos ramos e o trote do cavalinho a caminhar na estrada.

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