segunda-feira, 6 de abril de 2009

Seguidor de estrelas

Nos contornos de uma vida, Sr. Seguidor de estrelas rendeu-se à vontade do inimigo, delineou com dedo familiar a curva que fez erguer a ave ferida que caiu no mar. Não afastou do peito a chama que lhe trazia a frente coroada, agarrou-se ao ânimo que de tão livre se tornou escravo.

Em manhãs de Abril, arrastou-se embriegado à mesma silenciosa cela que o manteve aprisionado em grades de aço. Só nas carícias do ar construíu uma pequena janela para poder cismar com os montes pesados que ainda tomavam conta do azul.

Escreveu a esperança a giz para celestialmente abrilhantar as paredes solitárias que o rodeavam, vestiu-se a preceito com o seu fato de melancolia em pó e recorreu ao vento para desatar os fios de ouro reluzentes que faziam tombar a folha.

Sr. Seguidor de estrelas renunciou a um fim deleitoso e com um cacho de uvas verdes numa mão e com uma caneta na outra reorganizou a sua ementa. Ele que fugia do mundo o seu olhar, com medo que lhe descobrissem os segredos, passou a decorar os seus receios com fitas vermelhas de liberdade.

Sentiu-se borboleta a voltejar sobre si.

Avistou uma árvore, arrastando as asas em moratórias indeterminadas, caminhou até ela, estendeu os ramos e fez um baloiço. Balanceou-se, balanceou-se e parou. Estático e imóvel esvaziou.

Parou na sua história. Regressou ainda que trémulo às linhas da primeira nova folha e encostado a uns ramos verdes ( que estavam ai à mão), começou logo por enfrentar o caçador sagaz que ainda por ali teimava em passar, colocou uma pedra sobre essa folha e partiu para a descoberta da página seguinte.

Sr. Seguidor de estrelas, viu-se entao obrigado não pelo fisco nem pelas verbenas a comparecer assiduamente a encontros de razão.

É que quase que o sol morria lá ao longe, não fosse o longe estar se si tão perto.

1 comentário:

  1. Dedos sobre o teclado, costas soldadas na cadeira, cabeça ligeiramente pendida para trás, olhar focando o espaço, narinas inflamadas pela demanda extraordinária de oxigénio para um cérebro em demagogo exercício de absorção e tentativa de comentário...

    O melhor comentário que posso fazer é esta "fotografia". O teu post é uma pedra, a minha mente uma superfície de água, o retrato que faço, o efeito da pedra atingir a água!

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